O retorno ao presencial
O que foi chamado de “tendência que veio para ficar” já está dando as despedidas. Na academia, no trabalho, no Judiciário, está sendo retomado o rito com a presença física. No Judiciário, por exemplo, a modalidade híbrida está sendo muito usada. Em audiência de processo-crime com réu preso, o referido não sai da unidade prisional, […]
Por Israel Minikovsky 14 min de leitura
O que foi chamado de “tendência que veio para ficar” já está dando as despedidas. Na academia, no trabalho, no Judiciário, está sendo retomado o rito com a presença física. No Judiciário, por exemplo, a modalidade híbrida está sendo muito usada. Em audiência de processo-crime com réu preso, o referido não sai da unidade prisional, o que se traduz em contenção de despesa e elimina o risco de intercepção criminosa e quadrilheira em face de uma diligência judicial estatal. Na educação, o modo presencial parece contribuir para o sucesso da aprendizagem, pela capacidade de despertar mais atenção, e tirar dúvidas assim que elas surjam, e com mais, eu diria, intimidade entre docente e discente. Já no trabalho, os motivos que ensejaram o retorno ao presencial seguem elencados: maior produtividade, níveis mais elevados de criatividade e, pasmem, melhora na comunicação (com todos os petrechos que temos à nossa disposição!). Tanto a metodologia remota quanto a tradicional têm vantagens e desvantagens. Se você pode fazer as coisas do computador da sua casa, esquiva-se de um trânsito que o deixa preso dentro do seu veículo uma boa fatia da sua jornada diária. O ambiente presencial, por outro lado, faz exigências que podem ser positivas. O profissional usará uma roupa social, mais solene, estará ladeado por colegas, e isto eleva o nível de estresse. Bem dosado, isto é, na medida certa, o cortisol pode ser um aliado poderoso na execução de tarefas. O presencial lhe coloca, além do mais, dentro de uma equipe, o que redunda em cooperação e sinergia. Como seres sociais que somos, temos nossa motivação estimulada no contexto coletivo. Talvez não tenhamos esta percepção, porém, essa mudança, em termos práticos, é mais radical do que a Revolução Francesa. E não é do dia para a noite que fazemos a água se tornar em vinho. A educação é outro caso ilustrativo excelente para este debate: o Novo Ensino Médio não conseguiu implantar-se. Qualquer mudança socialmente profunda deve ser muito bem pensada. O momento de transição é tudo. A experiência mundial coleciona provas de que grandes mudanças, sejam elas sociais, políticas ou econômicas, devem acontecer aos poucos. A etapa de acomodação é fundamental para o êxito de um modelo novo. Entrementes, é inegável que a circunstância de instabilidade exigiu um esforço adicional de nossa parte, de maneiras que, hodiernamente, temos conhecimentos que não tínhamos antes. O socialismo está vivíssimo. Todavia, se morto e sepultado estivesse, teria o mérito de proporcionar experiências e saberes valiosos. Mesmo nos Estados capitalistas, o referencial teórico aplicado às políticas sociais toma ideias e estratégias de empréstimo dos autores da Teoria Crítica. Outro aspecto que emerge é a carência de experiência e a limitação de todas as teorias do mundo. A realidade é puro dinamismo. Nós estamos ainda construindo o modelo ideal. Todos os momentos o são de reajuste, adequação e aperfeiçoamento. Há um provérbio que diz “ninguém de nós é tão bom quanto todos nós juntos”. E eu acrescentaria: “nós somos melhores do que nossas próprias tecnologias”. O aparato que interpomos entre nós e a natureza, ou entre nós próprios, tem essa qualidade doble, sempre comporta expansão, ao passo que nossa natureza humana tem um quê de intranscendível. Fiz questão de escrever sobre esse assunto pelo fato de o mesmo apresentar um alcance social quase sem par. Esse tipo de registro é de grande valia para historiadores e pensadores. A pandemia atingiu nossa pessoa enquanto indivíduos e enquanto membros de uma coletividade. Se só conhecemos o ser pelo não ser e vice-versa, conhecemos o consciente pelo inconsciente e vice-versa, a metodologia de atividade remota nos brindou com a oportunidade de compreender e valorar adequadamente as atividades presenciais. O isolamento foi uma penumbra, e o retorno ao presencial está sendo luz!