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Overtourism

Muito se discute o potencial turístico de São Bento do Sul. Aliás, o assunto sempre vem à tona quando é época eleitoral e as siglas se digladiam pela administração pública do município. Alguns anos atrás, um professor meu foi candidato a prefeito, e teve a audácia de admitir que São Bento do Sul não tem […]

Por Israel Minikovsky 14 min de leitura

Muito se discute o potencial turístico de São Bento do Sul. Aliás, o assunto sempre vem à tona quando é época eleitoral e as siglas se digladiam pela administração pública do município. Alguns anos atrás, um professor meu foi candidato a prefeito, e teve a audácia de admitir que São Bento do Sul não tem vocação turística, e nem adiantaria “malhar em ferro frio”. O que ocorre, efetivamente, é isto: alguns cidadãos bem-nascidos, com disponibilidade de horário e dinheiro, passam uma temporada no exterior, mais na Europa do que em qualquer outro lugar, quando o destino não são os Estados Unidos, e “compram a ideia” de replicar certos modelos. Em todos os lugares do mundo o turismo é uma atividade econômica de invejável auferimento de dinheiro. Não em poucos lugares, é o fator que puxa a economia local. Todavia, o lado bonito e interessante desse negócio esconde aspectos colaterais não muito bem-vindos. Cidades europeias cuja população vem a ser muito menor do que a de São Bento do Sul, por exemplo, recebem milhões (!) de turistas por ano. E o problema disso é que não é nada fácil acomodar tanta gente. A Europa apostou no turismo, deu certo, no entanto, agora dá marcha à ré. Em todo lugar há postos de pedágio, tarifas, multas e preços elevados. E a população local tem de conviver com preços altos por conta dos seus visitantes. Escrevo estas coisas porque justamente acredito que podemos alavancar o turismo em São Bento do Sul. Sem embargo, antes de implementarmos qualquer diretriz neste sentido, é preciso que façamos um estudo. Quantas pessoas damos conta de atender? O que será oferecido a elas? Do que mais elas precisarão quando estiverem aqui? A solução pode se tornar um grande problema. O turismo, além do mais, deve ser pensado segundo um viés regional. Seria o caso de se criar um circuito turístico, em que São Bento do Sul viria a ser um dos elos deste todo. Uma supervisitação traria consequências de todas as naturezas, inclusive sanitárias. Todo ser humano é um vetor em potencial de doenças. A população local estaria mais vulnerável a agentes biológicos ofertantes de risco. Faltam profissionais para receber a pessoa do turista. Quantos dos comerciários dominam inglês, espanhol, e outros idiomas, para estabelecer diálogo com o estrangeiro? Pois também não faria sentido investir em formação linguística para permanecer na mesma faixa salarial. Nós temos uma flora exuberante, um grande potencial paisagístico, temos uma boa culinária, e uma indústria pujante boa o suficiente para atrair visitantes com interesse em nossos produtos fabris. Dentro desse contexto vem sendo pensado o turismo religioso, e eu não duvido de que ele possa dar certo. Parte considerável dos turistas é de pessoas idosas. Ou seja, pessoas com tempo e algumas reservas em dinheiro. Destarte, jamais podemos perder de vista que é para elas que as coisas devem ser feitas e estar dispostas. No veraneio há uma tendência sazonal de privilegiar o litoral. As menores opções ficam para a estação de inverno. Sendo assim, para quem gosta de diversão o ano inteiro, seria uma boa meditarmos sobre o que poderia ser oferecido em São Bento do Sul nos meses frios. De arrancada, eu apostaria na gastronomia. Se tudo o que oferecemos é muito caro para quem goza de baixa renda, é certo que haverá uma redução de público em função da incompatibilidade entre custo e disponibilidade de recursos. Lado outro, frequentemente ouvimos de turistas estrangeiros que seria preferível pagar mais para ter algo de melhor qualidade, pois o barato ofertado não valia o que custou. No geral, dito por outras palavras, o turista estrangeiro é exigente, e nós não podemos ficar aquém da expectativa dele. Não estou propondo desistirmos do turismo, apenas sugiro azeitar as coisas, para que não sejamos tomados de surpresas desagradáveis e nem façamos feio a quem vier nos prestigiar. Turismo é luz!