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Parte da tragédia no Rio Grande do Sul foi causada por ação humana

Enchentes

Por Gilmar dos Passos 8 min de leitura

A tragédia que atingiu 446 municípios gaúchos foi amplamente influenciada pela ação humana. A construção em áreas inadequadas, como zonas de alagamento, e a falta de manutenção em diques e barreiras anti-alagamento são fatores determinantes. Segundo Roberto Reis, professor da PUCRS, as obras realizadas na década de 1970 nunca receberam a devida manutenção. Ele atribui a responsabilidade pela tragédia aos administradores estaduais e municipais, ressaltando que as enchentes são naturais, mas as consequências desastrosas resultam da má gestão humana.

Porto Alegre, por exemplo, está situada em uma área naturalmente propensa a alagamentos devido à confluência de rios próximos ao Lago Guaíba. Reis observa que, a cada dois ou três anos, ocorrem alagamentos na cidade, mas o evento recente foi excepcionalmente severo. Ele enfatiza que, embora as cheias sejam inevitáveis, a construção adequada e a manutenção de diques e barragens poderiam mitigar os danos.

Em setembro do ano anterior, uma grande enchente revelou falhas nas comportas e diques, que não foram corrigidas a tempo. Reis destaca a necessidade de aprender com esses eventos para evitar custos elevados no futuro. Ele também menciona que a mudança climática, exacerbada pelo excesso de gás carbônico na atmosfera, tem contribuído para chuvas extremas e, consequentemente, para enchentes severas.

O professor Rodrigo Paiva, da UFRGS, explica que o principal fator para a grande cheia no Lago Guaíba foi o volume recorde de chuvas na bacia do Guaíba desde o final de abril e início de maio, atingindo até 800 milímetros em alguns locais. As cheias rápidas nos rios da serra, que elevam os níveis d’água rapidamente, causaram destruição significativa, especialmente no Vale do Taquari. Paiva observa que a água das montanhas desce lentamente para a planície, contribuindo para a elevação gradual do Lago Guaíba.

A duração prolongada do evento de cheia é atribuída à dificuldade de escoamento da água nos rios de planície, como o Jacuí. Paiva ressalta que, se não houvesse as várzeas, a água chegaria a Porto Alegre com mais força e rapidez, resultando em consequências ainda piores. As várzeas atuam como um reservatório natural, atenuando as cheias e protegendo a região metropolitana, embora a inundação ainda cause profundidades significativas e riscos de destruição.