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Pedrinho Matador

Em certo dia, alguém me disse que, status é “comprar o que você não precisa, com o dinheiro que você não tem, para mostrar para quem você não gosta, aquilo que você não é”. A grande verdade é que, desde pequenos, corremos atrás desse tal status. A sociedade é uma organização fortemente hierarquizada, e cada […]

Por Israel Minikovsky 13 min de leitura

Em certo dia, alguém me disse que, status é “comprar o que você não precisa, com o dinheiro que você não tem, para mostrar para quem você não gosta, aquilo que você não é”. A grande verdade é que, desde pequenos, corremos atrás desse tal status. A sociedade é uma organização fortemente hierarquizada, e cada um se empenha para estar acima do seu semelhante. O adolescente, então, nem se fale! A pessoa nessa faixa etária está transacionando de criança para adulto. Nem é preciso dizer como os adultos enxergam a si mesmos. O adolescente está cônscio de que ali, de certo modo, estarão traçados os rumos da sua própria existência. Na escola, com maior ênfase para o ensino médio, vemos os alunos nesta luta. Existem os intermediários, os que vão muito bem nas notas, e os que “tocam o terror”. Esses últimos, os que “tocam o terror”, no geral, são os alunos provenientes dos bairros periféricos, que não desfrutam das mesmas condições dos alunos bem-sucedidos, em virtude de provirem de outro modelo de arranjo familiar, por este motivo destinados a buscar o status pela via heterodoxa. Essa questão do status da criminalidade, é tão forte, que existe uma espécie de orgulho em “ser mulher de malandro”. No próprio colégio, algumas meninas se acham glamourosas por namorarem “aviõezinhos”, traficantezinhos de meia-pataca. É dentro deste contexto que vemos Pedro Rodrigues Filho, vulgo “Pedrinho Matador”. Filho de pai bêbado e violento, aos 9 anos de idade saiu de casa. Aos 18 anos foi condenado a 42 anos de prisão. Teria matado, segundo a Justiça, 71 pessoas. No entanto, ele relata ter matado mais de 100. A maior parte dos seus crimes ocorreu dentro de unidade penitenciária, contra companheiros de cela. Trazia no corpo várias tatuagens, inclusive uma com os dizeres “Mato por prazer”. Ele matava não só por prazer, senão também por motivo fútil. Alguém lhe disse que o intestino do ser humano tem 7 metros de comprimento, e por isso resolveu abrir o abdômen do colega para verificar a informação. Consta, na certidão de óbito de determinado político, que ele teria falecido “por causas naturais”, porém Pedro teria dito que foi ele quem lhe ceifou a vida. Erro material em documento? Ou Pedro teria assumido mortes de que não participou, porque o seu status consistia em ter fama de matador? Quando uma psicóloga visitava o espaço em que Pedro se encontrava recluído, teve medo de cruzar com um grupo de aproximadamente 50 presos, e ele confessou ter ficado chateado com ela. Porque, afinal, “quem anda com Pedrinho Matador não tem que ter medo de nada!”. Vemos, pois, que toda a personalidade de Pedro sempre girou em torno de criar um mito, uma lenda a respeito de si mesmo. A oportunidade que a sociedade lhe deu foi essa: destacar-se por meio da violência, destacar-se pelo inadimplemento do código de regras da sociedade à qual precariamente pertenceu. Muitos juristas afirmam que o ordenamento jurídico pátrio é “insuficiente para este tipo de situação”, fala esta escorada no entendimento de psiquiatras, que alegam “tratar-se de um problema constitucional” – não na acepção jurídica, mas ontológica – no sentido de “inexistir terapia ou método capaz de reverter o aludido padrão de comportamento”. Sem negar o transtorno mental e comportamental do matado Pedrinho Matador, sem negar que sempre, por alguma razão, teremos psicopatas entre nós, eu não posso negar que seriamente desconfio que, o status, sim, bem ele, foi o ingrediente que apimentou a maneira de se conduzir e de autodeterminar-se do finado Pedrinho Matador. Quando falta luz, é nisso que dá!