Pesquisa sobre saúde mental com a sociedade brasileira
De 19 de janeiro a 20 de fevereiro de 2023 foi realizada uma pesquisa objetivando aferir a saúde mental da população brasileira. Os critérios usados foram, respectivamente, os níveis de confiança, vitalidade e foco. Sendo compreendida por “confiança” o crédito que a pessoa atribui a si mesma, por “vitalidade” a sensação de motivação e energia […]
Por Israel Minikovsky 15 min de leitura
De 19 de janeiro a 20 de fevereiro de 2023 foi realizada uma pesquisa objetivando aferir a saúde mental da população brasileira. Os critérios usados foram, respectivamente, os níveis de confiança, vitalidade e foco. Sendo compreendida por “confiança” o crédito que a pessoa atribui a si mesma, por “vitalidade” a sensação de motivação e energia para realizar os próprios propósitos, e por “foco” a capacidade de direcionar a atenção para os afazeres do cotidiano profissional. Estes critérios foram confrontados com sete marcadores que acompanham a pessoa no seu ser social. São eles: 1) Gênero e identidade de gênero. Os homens se mostraram bem mais confiantes do que as mulheres. 2) Orientação sexual. Os heterossexuais obtiveram pontuações mais altas nos três quesitos. 3) Nível socioeconômico. Os de maior renda pontuaram melhor nos critérios. 4) Idade. Os jovens mostram-se mais propensos a estar deprimidos do que pessoas de outras faixas etárias. 5) Raça. Não há grandes diferenças entre as pessoas de diversas raças na perspectiva dos critérios selecionados. A exceção é que os indígenas exibiram confiança reduzida. 6) Religião. Quem possui vínculo consolidado com tradições religiosas mostra-se mais saudável do que céticos, agnósticos ou materialistas. 7) Perfil ocupacional. Os profissionais empresários encabeçaram os melhores índices. Além do cruzamento de dados entre os três critérios e as sete qualificadoras sociais, a pesquisa identificou dois elementos capazes de otimizar a condição mental da pessoa: uma boa relação com a família e a prática de esporte. A pesquisa parece ter chovido no molhado, contudo, aquilo que antes era senso comum, agora é estatística, o que faz total diferença do ponto de vista do status epistêmico. É o diagnóstico da própria realidade que sugere o traçado da estratégia que se colocará em marcha. O perfil do estudo também oferece dicas importantes a quem objetiva moldar seu estilo de vida a um padrão mais próximo do recomendável. Buscar espiritualidade e praticar ginástica, por exemplo, depende acima de tudo de uma tomada de decisão da própria pessoa. Em se tratando de família, não temos muito o que fazer quanto ao passado, se bem que, por outro lado, estamos todos avisados de que a saúde mental dos nossos filhos refletirá a nossa proficiência enquanto seres humanos e pessoas em relacionamento. É natural que os jovens de hoje se sintam mais ansiosos ou deprimidos do que os jovens de outrora. Sair da situação de aspirante, para estrear o próprio protagonismo, é um processo de transição cuja duração se alonga cada vez mais. Esta desvantagem é compensada, em tese, pelo fato de nossa expectativa de vida estar sendo estendida. Vale dizer, depois que agarramos nossa função, ela fica sob nosso controle por mais tempo. Além de todos os estresses pelos quais passamos ao longo da vida, o que conta é o modo como enfrentamos estas situações. Buscar algum tipo de compensação no álcool, no tabaco ou em drogas ilícitas pode agravar em muito nossas enfermidades mentais. As melhorias pelas quais o mundo passou nos afetam de duas maneiras diferentes. Um exemplo disso é o sistema de ensino. Hoje está muito mais fácil cursar uma faculdade. Todavia, a facilidade traz consigo o inconveniente de que passa a ser normal ou majoritário ser graduado, então, até aquele que nunca fomentou a ambição de realizar grandes estudos se vê forçado a perfazer alguma formação acadêmica, goste-se ou não do ambiente universitário. A mesma analogia aplica-se ao possuir uma casa de determinado padrão, conduzir um automóvel de certo valor de mercado, e por aí vai. A oportunidade torna-se uma obrigação. Somos determinados socialmente, na escassez e na abundância. E nossa saúde mental ou falta dela reflete todas estas circunstâncias. Uma sociedade estruturalmente constituída sobre o axioma da diferença, necessariamente, há de sobrecarregar a saúde mental dos indivíduos que a integram. Disso resulta o dever ético e político do Estado de compensar os efeitos da concorrência social. O recém-falecido escritor tcheco, Milan Kundera, já sentenciara que somos incapazes do não estresse. Afinal, “a leveza do ser é insustentável”. Luz!