Política, essa coisa séria!
A Constituição Federal, no seu artigo 6º, assegura que: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Veja-se que o “lazer” integra o rol dos direitos […]
Por Israel Minikovsky 15 min de leitura
A Constituição Federal, no seu artigo 6º, assegura que: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição”. Veja-se que o “lazer” integra o rol dos direitos sociais. Ponho-me a pontuar que, inobstante ser o lazer um direito, todo direito condiciona-se a circunstâncias e elementos de realizabilidade. Como tudo o mais, o lazer se vincula a conveniência e oportunidade. Assim como a um ministro de confissão religiosa, não calha bem, ser proprietário de casa noturna, por analogia, não se adéqua que um político seja humorista, ou que exerça ambas as atividades concomitantemente. Faticamente, é possível, sim, explorar o eleitorado pelas vias da comédia. Entretanto, penso que o legislador deveria coibir a fungibilidade oriunda da comoção da plateia de natureza circense e o exercício do sufrágio. Política é coisa séria. As nações precisam de estadistas, e não de bobos da corte. Não me oponho que, entrementes, atletas participem da política. Isto deveria ser até incentivado. Se o mandato do ex-futebolista Romário de Souza Faria, na Câmara Alta, não pode ser chamado de “excelente”, com certeza, fica bem dentro do “razoável”. Não pretendo colocar em circulação um novo preconceito. Apenas proponho que estabeleçamos uma questão de ordem. O homem mediano está propenso a ver no setor público o espaço da baderna e do descalabro. Isto, em grande medida pela tônica que os meios de comunicação social promovem, preferindo deter-se sobre os aspectos negativos da atuação estatal e seus agentes. Com efeito, o Estado e sua ingerência sobre a vida dos seus administrados, do ponto de vista ideal, deveria ser justamente o oposto disso, ele deveria ser o mais perfeito exemplo de moralidade e idoneidade. Creio que, para que se concretize esta hipótese, é de fundamental importância afastar do setor público tudo o que o desabona ou que lhe risque o brio. Esta é a razão por que sugiro a vedação de humoristas em espaços públicos empoderados. Nunca é demais lembrar o conceito weberiano de Estado: é aquele ente que detém o monopólio do uso legítimo da violência. Tal definição traz consigo a gravidade daquilo que é a atuação estatal. Pode tal espécie de atuação harmonizar-se com produção de humor? Volodymyr Zelensky é o exemplo prático do que um ator de entretenimento consegue colocar em marcha: uma carreira política que principia pela comédia e termina em tragédia. A mentalidade política do catarinense, em geral, é atrasada. O cidadão barriga-verde ainda não percebeu que ser gestor público não consiste em apenas administrar. É preciso ter uma filosofia de vida e saber cuidar de pessoas. A lógica empresarial, que se diga, também é diferente da lógica da administração pública. Malgrado estas colocações, se for para eleger piadista, que se coloque nos cargos do Executivo e Legislativo o mais quadrado de todos os empresários. O indivíduo pode ser inteligente, manjar de leis, de administração e de contabilidade, pode ser carismático e puxar votos; mas se não fizer o que precisa ser feito com seriedade, tudo irá à bancarrota. Eventos importantíssimos na trajetória de uma pessoa ou de toda uma comunidade não se fazem cingir tanto por complexidade e abstração, senão antes, por solenidade e recato. Ninguém precisa estar permanentemente com o cenho franzido, e é desejável que uma liderança tenha a capacidade de sorrir. O que precisa ficar claro é que gestão pública não é brincadeira. E essa aprendizagem deve ser assimilada pelos políticos e pelo povo em geral. O político influi na percepção do povo, e, este, naquele. Sendo assim, deixemos a brincadeira para outro lugar e momento. 2024 é ano eleitoral. Precisamos ficar antenados, desde já observando e meditando sobre quem tem o melhor perfil para com as demandas próprias do setor público. Se não votarmos bem, o que haverá de ocorrer será isto: o eleitor terá sido o grande palhaço, resultado que, com toda certeza, não queremos que venha a se consubstanciar. Luz!