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Prevenir (para não remediar)!

No dia 1° de setembro de 2022, das 8h às 16h, no auditório do Instituto Federal Catarinense de São Bento do Sul, integrantes da rede de proteção ao cidadão participaram da capacitação “Prevenção na prática – para o combate ao uso de drogas”. A palestrante foi a psicóloga Alana Sieves Wendhausen, especialista em dependência química […]

Por Israel Minikovsky 23 min de leitura

No dia 1° de setembro de 2022, das 8h às 16h, no auditório do Instituto Federal Catarinense de São Bento do Sul, integrantes da rede de proteção ao cidadão participaram da capacitação “Prevenção na prática – para o combate ao uso de drogas”. A palestrante foi a psicóloga Alana Sieves Wendhausen, especialista em dependência química e prevenção. Ela integra a organização da sociedade civil Cruz Azul no Brasil, filiada à International Blue Cross. A entidade existe desde 1877 e se faz presente em mais de quarenta países, tendo Blumenau (SC) como endereço sede. Enquanto a Cruz Vermelha foca no auxílio aos atingidos pelas guerras, a Cruz Azul luta por uma vida sem drogas. Ambas merecedoras de aplausos quando se tem em vista a razão social. Como urge toda situação problemática, também em sendo a questão o uso de drogas, recomenda-se focar não no problema, mas na solução. Uma família organizada e com fortes vínculos entre seus membros é um fator de proteção, i. e., se aproxima da solução. A psicóloga norte-americana Diana Blumberg Baumrind (1927-2018) trabalha com modelos parentais, partindo do viés dos pais, e identifica quatro padrões: negligentes, aqueles que não fazem o que precisa ser feito, são relapsos e omissos; permissivos, aqueles que anuem a praticamente tudo por medo de perder o afeto dos filhos; autoritários, aqueles que são déspotas e arbitrários; e os autoritativos, aqueles que demonstram a postura ideal, colocando limite, orientado, cuidando e dando afeto. É o amor na medida certa e do jeito certo. O guardião ou responsável diz “sim” ou “não” consoante às conveniências ou circunstâncias. Este último padrão é o mais oportuno inclusive se a meta for livrar os filhos do contato com a drogadição. A prevenção varia em sua abrangência, de acordo com os recortes metodológicos. Ela poderá ser: universal, seletiva ou a pessoas indicadas. Embora os filhos de famílias autoritárias tendam a não se aproximar das drogas, elas exibem perfil de personalidade introspectivo e poucas habilidades sociais, sendo, em geral, infelizes. Percebe-se que uma intervenção pontual não funciona com adolescentes. Seriam necessários ao menos uma dúzia de encontros com os mesmos destinatários. Fatores de proteção e de risco estão nestas áreas da vida ou níveis: pessoal, familiar e social. Por exemplo, na esfera pessoal, ajuda ter uma boa autoestima. Na família e na comunidade/sociedade ajuda estar cingido por um sentimento de pertença recíproca. É notório, outrossim, que o que funciona com uma faixa etária não funciona com outra. Mesmo em instância familiar ou doméstica: na primeira infância os pais devem criar as regras e elas devem ser respeitadas pelos filhos. Na adolescência as regras precisam fazer parte de um combinado entre pais e filhos. Por conseguinte, a obrigação do adimplemento da norma terá como fundamento a modalidade pela qual ela veio ao mundo: foi fruto do consenso livre e esclarecido, enfim, uma convenção que vincula as partes pela adesão. Muitos de nós temos o hábito de reclamar da vida, do patrão, do trabalho, do estudo, do vizinho, do familiar, etc. O problema de toda esta murmuração inútil é que, a mensagem transmitida, acaba sendo esta: a vida adulta é chata. Então, se é ruim ou péssimo ser adulto, a geração em desenvolvimento passa a fugir da adultícia. E as drogas, por vezes, acabam sendo o caminho da fuga. Precisamos inculcar em nós mesmos e em nossos filhos a ideia de que não estamos neste planeta por acaso. Devemos carregar conosco a noção de uma causa pela qual militar, uma verdadeira missão. Para que a pessoa esteja sob proteção, ela mesma deve estar comprometida com a prevenção, sendo um cidadão atuante na sociedade, alguém engajado. Para quem gosta de números, US$ 1,00 na prevenção redunda na economia de US$10,00 do quadro já instalado (em nosso caso, obviamente, a referência é o real). A plateia, ao ser indagada pela palestrante, sobre quais fatores de proteção mantiveram os ali presentes longe das drogas, recebeu as seguintes respostas: medo das consequências, fé em Deus, ensinamento do pai e mãe, educação escolar, e outros. Entretanto, para as diferentes pessoas, diferentes são também as motivações para desviar-se do uso de tóxicos. Para o bem ou para o mal, o importante é o conjunto. Todos nós, os capacitandos, fomos alertados sobre o perigo de proferir um discurso errado. Um discurso que, além de ineficaz, promove um desserviço. A prevenção não pode ser a apresentação de um produto. O ócio, sobretudo em excesso, pode ser um estímulo à prática de maus costumes. Por isso, a formação é bem-vinda, para o exercício do trabalho e da cidadania, e porque capta a atenção e a energia da criança ou adolescente para algo positivo. Foi mencionado um projeto aplicado em turmas de alunos do 1° ao 5° do Ensino Fundamental, o qual se mostrou muito bem-sucedido, consistente no ensino de pensamento computacional. Quando o adicto é adulto, o nível de complexidade aumenta, pois todo adulto é cobrado a exercer papéis familiares e sociais. Pensando nisso, existe o Grupo de Apoio Kids, que é um trabalho realizado junto aos filhos de dependentes químicos. Para quem tem interesse de obter formação nesta área, a Faculdade Luterana de Teologia oferece o curso na modalidade de pós-graduação/especialização. Compreendendo que o domínio cognitivo acerca do tema é imprescindível, no entanto, ajuntando a isto o entendimento de que é impositivo agir, foram tomadas, no referido dia, as seguintes deliberações: a uma, será proposta ao COMAD a criação de um fundo próprio para políticas públicas voltadas à antidrogadição, para que nele ingressem as verbas necessárias, com modelo de captação análogo ao fundo do CMDCA; a duas, será criado um protocolo de atendimento para o adolescente que for flagrado na posse/uso de entorpecente; e, alfim, será criado um comitê intersetorial, não remunerado, com as pessoas que participaram do evento, sem requerer a nomeação por departamento ou secretaria por indicação do superior hierárquico, porém, fundado na espontaneidade e no amor à causa, com o olhar fito à resolubilidade, eficácia e absoluto comprometimento com o bem-estar da comunidade são-bentense. Copiando de outro lugar o trocadilho: “Atualmente, a tua mente, atua ou mente?”. Sim, ainda há luz!