Priorizando a saúde mental
Governo anuncia, pela voz da ministra da saúde, Nísia Trindade, investimento de R$ 200 milhões na área de saúde mental. O comunicado ocorreu durante a 17ª Conferência Nacional de Saúde, em Brasília. Essa verba será repartida e direcionada para 2.855 CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e 870 SRT (Serviço Residencial Terapêutico) que integram a RAPS […]
Por Israel Minikovsky 16 min de leitura
Governo anuncia, pela voz da ministra da saúde, Nísia Trindade, investimento de R$ 200 milhões na área de saúde mental. O comunicado ocorreu durante a 17ª Conferência Nacional de Saúde, em Brasília. Essa verba será repartida e direcionada para 2.855 CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e 870 SRT (Serviço Residencial Terapêutico) que integram a RAPS (Rede de Atenção Psicossocial). O lema deste ano é: “Garantir Direitos e Defender o SUS, a Vida e a Democracia – amanhã vai ser outro dia”. É bastante consentâneo a um governo esclarecido querer governar um povo que seja igualmente esclarecido. As aberrações políticas, a história assim o demonstra, são fruto do colapso da lucidez. Todo bom administrador deve ter o senso de realidade de reconhecer as verdadeiras demandas que lhe batem à porta. Gostaríamos que as demandas da saúde mental fossem inexistentes ou pouco frequentes. Isto é um desejo, mas a realidade fala outra coisa. Toda demanda requer uma devolutiva. Nada se faz sem dinheiro, outro axioma intransponível. Em todo o mundo e no Brasil, o que se vê é a ampliação do número de pessoas que necessitam de serviços da saúde mental. A pandemia do Covid-19 intensificou o problema, mas, por outro lado, nos induziu à compreensão da dinâmica que o produz e o majora. Hoje, mais do que nunca, existe toda uma política de prevenção, como veiculação de informações tocante aos malefícios do tabagismo e alcoolismo. Atualmente, de tanto em tanto, aparece uma nova droga. Por conseguinte, não basta tentar frustrar a oferta dessas substâncias, mas nossos adolescentes e jovens precisam estar cientes do risco inerente ao consumo delas. Como toda outra política, a política voltada à saúde mental deve estar articulada com as demais ao seu entorno. Uma desejável saúde mental decorre de alta qualidade de vida, coisa que só se proporciona na perspectiva transversal de plena articulação entre todos os atores da rede de proteção e demais pastas. A canalização de recursos para a saúde mental, além de ser uma medida administrativa de grande mérito, é uma atitude política afirmativa que declara valer à pena alcançar os cidadãos que padecem de sofrimento psíquico. Existe um forte preconceito e estigmatização em relação ao público da saúde mental. A sociedade em geral ainda não percebeu o potencial que essas pessoas trazem consigo. O problema, não raro, apenas mascara uma alta habilidade que não encontrou terreno fértil para se desenvolver. Por mais que o CAPS tenha surgido dentro da perspectiva de querer romper com o modelo hospitalocêntrico, os trabalhadores da saúde só poderão ofertar resolutividade dentro de condições mínimas de trabalho. Parte desse recurso será destinada a programas ou serviços que integrem o frequentador do CAPS à comunidade de que ele faz parte. Entende-se que não estamos a tratar apenas de “um cérebro”, mas de um ser que é ontologicamente social. Portanto, nenhuma terapia alcançará a meta desejada prescindindo-se das metodologias de socialização. Somos um país em franca desaceleração de natalidade, e daqui alguns anos, em termos absolutos, a população começará a diminuir. Outro fenômeno é do envelhecimento da população. A pessoa idosa está propensa a todas as enfermidades que acometem, eventualmente, um adulto qualquer, e ainda apresentam uma vulnerabilidade mental associada à sua faixa etária. Já veio em boa hora este recurso. O presente governo federal se mostra adequadamente situado no espaço e no tempo. Não se faz nenhum tipo de planejamento desconsiderando a linha do tempo e as estatísticas. A quem é jovem, fica aí a sugestão: quem sabe trilhar uma carreira na área de saúde mental. Os municípios brasileiros do interior se veem assaz desatendidos nesta área, então, campo de trabalho é o que não falta. Os adolescentes que passam pelo serviço de medidas socioeducativas recorrentemente têm envolvimento com substâncias psicoativas, o que mostra o impacto da fragilização da saúde mental para toda a sociedade e para o próprio Estado, desde o Executivo Municipal, onde se cumprem as medidas, até o Judiciário e o sistema de segurança. Todos queremos que, agora e doravante, os recursos sejam bem investidos, cabendo a cada cidadão, na sua individualidade, ser o fiscal dentro de sua área de abrangência, o Município onde assiste. Luz!