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TBRI® – Trust-Based Relational Intervention – Intervenção Relacional Baseada na Confiança

Do dia 23 ao 27 de setembro de 2024, nós, trabalhadores do SUAS – Sistema Único de Assistência Social, de São Bento do Sul, ao lado de pessoas de todos os pontos do território nacional, tivemos capacitação, on-line, com a professora Dra. Raquel Hatcher. Ela é membro da ABBA Brasil – Associação Brasileira Beneficente Aslan […]

Por Israel Minikovsky 57 min de leitura

Do dia 23 ao 27 de setembro de 2024, nós, trabalhadores do SUAS – Sistema Único de Assistência Social, de São Bento do Sul, ao lado de pessoas de todos os pontos do território nacional, tivemos capacitação, on-line, com a professora Dra. Raquel Hatcher. Ela é membro da ABBA Brasil – Associação Brasileira Beneficente Aslan que, por sua vez, é licenciada pela KPICD – Karyn Purvis Institute of Child Development, ligada à Texas Christian University (USA). Estou trabalhando com um instrumental registrado no competente órgão. Por isso mesmo, já vou avisando que não sou autor deste conteúdo. E não se deve usar este texto em citações de trabalhos acadêmicos ou outra modalidade de material oficial. Algumas coisas eu as escrevi como as compreendi segundo minhas próprias palavras, outras foram compiladas e adaptadas, mais por questões gramaticais do que por quaisquer outras, e outro tanto reproduzidas ipsis litteris. Os méritos são dos seus titulares legais, e não meus, portanto. Se, contudo, houver uma imprecisão, erro, falha, omissão, principalmente em razão do modo como as coisas foram escritas, esse ônus deve recair sobre meus ombros. Então vamos lá. A TBRI® é uma abordagem holística que é multidisciplinar, flexível, centrada no apego e desafiadora. É uma intervenção baseada em evidências e informada sobre traumas projetada especificamente para crianças que vêm de situações difíceis, como maus-tratos, abuso, negligência, várias mudanças de lares e violência. O TBRI ® consiste em três conjuntos de princípios harmônicos: princípio da conexão, empoderamento e correção. O TBRI ® pode ser usado em casas, escolas, residências, orfanatos, e em outros ambientes. A ideia é fazer a criança ou o adolescente retornar à trajetória natural de desenvolvimento. As crianças podem estar expostas a eventuais fatores de risco precoce: gravidez difícil, parto difícil, hospitalização precoce, abuso, negligência e traumas. Gravidez difícil pode se dar por motivos médicos, drogas, álcool, crises ou outros traumas, pode dever-se também a um alto e persistente nível de estresse durante a gravidez. Parto difícil oferta risco por vários motivos. Recorrentemente, por exemplo, ocorre de o recém-nascido ter ficado sem oxigênio por um breve período, levando a um dano neurológico. Hospitalização precoce: as crianças que passam por hospitalização precoce, geralmente, experimentam toques dolorosos, em vez de um toque afetuoso e reconfortante nos primeiros dias de vida. Abuso: crianças de ambientes abusivos sabem que devem estar sempre atentas. Seus cérebros foram treinados para serem hipervigilantes em relação ao ambiente ao seu redor. Negligência: a mensagem enviada a uma criança de um ambiente negligente é “você não existe”. As crianças de ambientes negligentes geralmente sofrem dos mais graves problemas comportamentais e déficits cerebrais graves. Traumas: qualquer número de traumas na vida da criança (testemunhar um evento extremo, por exemplo) pode fazer com que a trajetória de desenvolvimento da criança mude como resposta. O cérebro é plástico, o que significa que ele pode mudar ao longo da vida. O cérebro de crianças traumatizadas está operando em um nível de sobrevivência. Sua principal preocupação é satisfazer suas necessidades – de todas as formas possíveis. Estágios do desenvolvimento cerebral principal: uterino, primeiro ano, cinco anos, oito anos, doze anos e dezesseis anos. Os princípios de conexão ajudam as crianças a construir confiança e relacionamentos significativos. Incluem: contato visual, correspondência de comportamento e envolvimento lúdico. Os cuidadores devem ter consciência de seus próprios históricos de relacionamento. A experiência prévia individual impacta o “quefazer” do profissional. Princípios de empoderamento: ajudam as crianças a aprender habilidades importantes como a autorregulação. Subdividem-se em duas alas: estratégias fisiológicas, que enfocam as necessidades físicas internas da criança. Essas incluem aspectos como hidratação, açúcar no sangue e necessidades sensoriais e, estratégias ecológicas, que se concentram no ambiente externo da criança e a orientam a aprender habilidades de autorregulação. As estratégias ecológicas incluem aspectos como transições, andaimes e rituais diários. Princípios de correção: ajudam as crianças a aprender competência comportamental e social para que possam navegar melhor no mundo social em que vivem. Os princípios de correção incluem as estratégias proativas, que são projetadas para ensinar habilidades sociais às crianças durante os momentos de calma, e as estratégias responsivas, que fornecem aos cuidadores ferramentas para reagir a comportamentos desafiadores das crianças.

O apego, fundamental ao desenvolvimento humano, consolida-se num ciclo em que as necessidades são expressadas, mas não atendidas. As necessidades não atendidas resultam em angústia crônica e sofrimento crônico. Essa experiência acarreta desregulação comportamental. O ciclo do apego estabelece as bases para: confiança, valor próprio, autoeficácia (voz), autorregulação e saúde mental. A criança não pode estar passando por fome (baixo nível de açúcar no sangue) ou sede (desidratação). Quando se sente sede, as pessoas sofrem uma perda de até 2% do peso corporal e um declínio de 10% no funcionamento cognitivo. Sugestão de transição: em quinze minutos iremos para…, em dez minutos…, em cinco minutos… Está na hora de irmos! Uma técnica de empoderamento é dar às crianças uma parcela de controle, poder optar entre A e B, sem ter escolha “certa” ou “errada”. Devem-se fazer acordos ou combinados. Ou seja, delegar discricionariedade mediante condicionalidade. Termos de valor da vida: com respeito, gentil e amável, cooperar e fazer concessões, consequências, perguntar ou dizer?, ouvir e obedecer, sem mágoas (Do Group Theraplay®), fiquem juntos (Do Group Theraplay®), use suas palavras, aceitando o “não”, com permissão e supervisão. Estratégias responsivas:

Resposta Imediata – dentro de três segundos.

                 Direta – no mesmo nível da criança.

                 Eficiente – apenas a quantidade certa da intervenção.

                 Ação – melhor maneira de aprender: fazendo.

                 Linear – ao comportamento e não à criança.

Devo perguntar à criança: você pode utilizar palavras, e não seu comportamento, para eu entender do que você precisa? De acordo com o grau de agitação da criança eu posso e devo usar níveis diferentes de resposta. Nível um: entendimento lúdico; Nível dois: envolvimento estruturado; nível três: acordo de acalmar. Entre os objetivos do treinamento constam: apropriar-se de ferramentas para tornar o ambiente seguro e previsível e criar ponte entre teoria e aplicação. A ideia do empoderamento é fazer com que a criança consiga controlar as próprias emoções. Às vezes as crianças estão seguras, mas não se sentem seguras. A certeza, para a criança, de que ela não passará por fome, sede, agressão, humilhação, de que ela pode confiar no seu cuidador, fará com que ela se sinta segura. O excesso de estimulação, como ruído volumoso, pode sobrecarregar o sistema auditivo e, com ele, todo o sistema nervoso da criança. Nós temos cinco sentidos externos (visão, audição, olfato, paladar, tato) e três sentidos internos (vestibular, proprioceptivo e tátil). O sentido vestibular é controlado pelo fluido do ouvido interno e indica ao corpo onde ele está em relação à Terra. O sentido proprioceptivo registra a sensação de tocar e ser tocado com pressão profunda. Ajuda o cérebro e o corpo a se reorganizar quando recebe pressão muscular firme e suave. O sentido tátil é totalmente funcional ao nascer. O toque afetuoso tem muitos benefícios, começando na infância. É sensível à qualidade de pressão com a qual somos tocados ou segurados. Esses conceitos são importantes, visto que não é incomum que crianças que tenham tido experiências difíceis no início da vida apresentem déficits nas capacidades de processamento sensorial. A expressão técnica que caracteriza essa condição chama-se “Transtorno do Processamento Sensorial (TPS)”. Trata-se de uma falha que impede o desenvolvimento adequado de um ou alguns sentidos. Quando uma criança apresenta déficit sensorial é proposto que ela pratique atividades proporcionadoras de estímulos sensoriais. As crianças oriundas de situações difíceis são regidas por um cérebro que recorre a um sistema de resposta primitivo, com poucas opções: lutar, fugir ou congelar (não reatividade, tanatose, etc). A falta de hidratação pode levar a: dificuldade de concentração, problema de memória, ansiedade, humor irritado. A falta de glicose sanguínea leva a: déficit cognitivo e acadêmico, dificuldades de concentração/escuta, ansiedade, depressão, irritabilidade, agressividade, isolamento, brigas com colegas, falta de motivação. As crianças devem comer e beber, no mínimo, a cada duas horas. A oferta periódica de alimento a crianças vindas de situações difíceis evita que elas façam acumulação de alimentos, reflexo do medo de passar fome. As transições são difíceis ou estressantes para todos os seres humanos, sobretudo para crianças. Transições na vida: mudança para uma nova casa ou cidade, adoção por uma família acolhedora, nascimento de um irmão ou irmã. Transições diárias: arrumar-se de manhã, trocar de atividade na escola, ir para atividades extracurriculares. Sugestões para abrandamento da transição: para transições diárias, uso de cartões de transição, para transições de vida, livros de vida/memórias. A regulação, via de regra, passa por três etapas: 1) Regulação por outros: ocorre durante o primeiro ano de vida. Os cuidadores amorosos regulam tanto as necessidades fisiológicas quanto emocionais dos bebês, (por exemplo, quando os bebês estão com fome, os adultos os alimentam; quando os bebês estão chateados, os adultos confortam). A corregulação ocorre durante os anos de criança pequena e pré-escolar. Os adultos ainda fornecem muito apoio, mas as crianças aprendem habilidades básicas de autorregulação e a pedir por suas necessidades (por exemplo: “Estou com fome”, “estou com frio”, “estou com medo”). Crianças e cuidadores trabalham juntos para atender a essas necessidades. A autorregulação se desenvolve na infância e além. Nesta idade, os cuidadores ainda não estão no comando das crianças e do ambiente ao seu redor. No entanto, as crianças aprenderam a regular necessidades, como preparar um lanche simples quando estão com fome ou colocar um casaco quando estão com frio. As rotinas e rituais são importantes para estabelecer conexões. Para ilustrar a diferença entre rotinas e rituais, considere a hora de dormir. Um exemplo de rotina da hora de dormir é tomar banho, ler um livro, apagar as luzes. Um exemplo de ritual na hora de dormir é quando a mãe e a criança fazem contato visual e cada uma diz uma parte favorita do dia. Se a criança não tem um cuidador amoroso, ela demonstra dificuldade em confiar no adulto. À medida que cultivamos relações de confiança e a criança percebe sua voz ouvida, ela vai sair do modo “estratégia de sobrevivência”. John Bowlby foi o primeiro a desenvolver o conceito de apego e, por fim, a Teoria do Apego, a ideia de que os bebês criam um vínculo especial com um cuidador. Ele reconheceu que, em situações ideais, os bebês usam os cuidadores como uma base segura a partir da qual exploram seus mundos físicos e sociais. Bebês precisam se sentir seguros e saber que o cuidador atenderá às suas necessidades. Bebês usam os vínculos com seus cuidadores como modelos para relacionamentos futuros.

Estilo de apegoHistórico com o cuidadorEstratégia do bebê quando irritado
SeguroO cuidador responde consistentemente quando o bebê está chateado.Chorar; o bebê sabe que o cuidador vai acalmá-lo.
Ansioso-evitativoO cuidador não responde quando o bebê está chateado.O bebê aprendeu a não chorar para ter suas necessidades atendidas.
Ansioso-ambivalenteO cuidador responde de forma inconsistente quando o bebê está chateado.O bebê chora (e é difícil de acalmar) em um esforço para permanecer na atenção direta do cuidador.
DesorganizadoO cuidador é assustador/traumático.O bebê não tem uma estratégia clara quando está chateado.

Desenhos de família: quando as crianças não têm palavras para falar sobre seus sentimentos, ferramentas como o trabalho artístico de uma criança podem fornecer pistas sobre como a criança se sente em relação à segurança de seu ambiente.

MarcadorDescrição
Distância entre pais e filhos, criança ou adulto omitido no desenho, criança desenhada no verso da páginaDistância emocional
Ausência de pés/mãosVulnerabilidade/impotência
Distorção de tamanho (por exemplo, criança grande, mãe pequena)Vulnerabilidade, inversão de papéis
Criança desenhada em caixaA criança se sente insegura, possível abuso
Símbolos incomuns, temas de fantasiaDissociação
Olhos ocos, cabeças/corpos flutuantesDissociação
Rabiscos, riscados ou apagados/raspadosTensão/raiva

A maneira como tratamos aqueles que estão sob nossos cuidados é influenciada pelo modo como fomos tratados quando éramos os recebedores dos cuidados. Quem pretende aprender a técnica de apego seguro deve cumprir estas orientações: seja honesto com relação ao passado; deixe o passado ir embora com compaixão; lembre-se de que a jornada para aprender apego seguro pode não ser rápida, mas resultará em uma conexão mais profunda com aqueles que você ama. Todo “mau comportamento” tem uma necessidade subjacente. Muitas vezes, essa necessidade é “voz”. Os princípios de correção são guias para mudar o comportamento, mas os princípios de conexão são a base dos relacionamentos. Embora o objetivo subjacente de tudo o que fazemos com as crianças seja a conexão, o objetivo explícito da correção é ensinar, orientar, treinar e corrigir. As estratégias proativas são projetadas para ensinar habilidades sociais e comportamentais. As estratégias responsivas foram criadas para ajudar os cuidadores a lidar com comportamentos desafiadores. Dar estrutura às crianças quando elas precisam de afeto impede a confiança. Dar às crianças afeto quando elas precisam de estrutura e direção impede o crescimento. Alguns estilos de cuidado erram por excesso de estrutura e outros por excesso de afeto. De acordo com o grau de cuidado e estrutura, e a combinação entre ambos, derivam quatro estilos de exercício de autoridade, de relacionamento e conexão:

Alto cuidado + alta estrutura = autoritativo
Alta estrutura + baixo cuidado = autoritário
Baixo cuidado + baixa estrutura = negligente
Baixa estrutura + alto cuidado = permissivo

Caso tenha considerado relevante este conteúdo, ou se percebe na condição de indivíduo tocado por demanda consistente em trauma infantil, recomenda-se contatar as pessoas autorizadas, por via dos canais infraelencados:

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