TERRORISTA EM RIO NEGRINHO
FOI MAL! SE ESTREPOU! A MORTE DIANTE DOS OLHOS!
Por Celso e Mariana 42 min de leitura
Quer dar umas risadas gostosas? Então, sente que lá vem histórias!
Três histórias cômicas/horripilantes.
DESESPERO NO MORRO DO MARTA. (Texto de Celso)
Época: Década de 1950.
Cidade: Rio Negrinho.
Local: Morro do Marta.
Atores Principais: A.D. e Policial de Trânsito.
Coadjuvante: bicicleta sem freios.
ESTE CAUSO VERDADEIRO CONTA UM POUCO DA HISTÓRIA DA BICICLETA EM RIO NEGRINHO.
Era uma vez, na década de 1950, em que a bicicleta era o principal veículo de locomoção da população, um ato terrorista chacoalhou Rio Negrinho.
- SAÍDA DOS OPERÁRIOS DA CIMO.
Esta é uma foto histórica e real da saída dos operários quando terminavam os trabalhos (foto rara). Aquele galpão comprido era a garagem das bicicletas dos operários. Abrigava centenas de magrelas. A foto mostra a garagem praticamente vazia porque os bicicleteiros já haviam se mandado.
Os operários da Móveis Cimo, quase todos, tinham bicicletas e com elas iam e vinham do trabalho, passeavam com elas e até faziam pequenas viagens como de Rio Negrinho ao Lageado, até São Bento ou de Rio Negrinho até Volta Grande por estrada de terra, não havia asfalto prá lado nenhum!
Aliás, uma viagem de ida e volta até Volta Grande era considerada “aquela viagem”!
Teve até um “lôco varrido”, o Seu Argel, primo do meu pai, que foi de bicicleta, pela serra de Serro Azul, até Doutor Pedrinho e voltou mais morto que vivo. Disseram as más línguas, que ele cansou tanto que nem o… -sabe aquele negócio, Né?-… não levantou mais por um bom tempo! Como sabiam disso? O próprio Argel contou que foi ao médico para tratar do delicado assunto e, para seu alívio, o médico disse que tudo era consequência do cansaço excessivo e que logo tudo voltaria ao normal! UFA!
- MULHER MAIS MODERNINHA JÁ ANDAVA DE BICICLETA.
Eram tempos difíceis para a mulherada. Se uma mulher andasse de bicicleta e ainda mais mostrando os joelhos, Deus me livre! Imediatamene era taxada como sendo “uma daquelas”!
Era meio estranho numa época em que as mulheres tinham pouca liberdade, que alguém do sexo feminino pedalasse aí pelas ruas, mas mulheres mais “avançadas” também andavam de bicicleta, foi quando começaram a aparecer nas lojas as ofertas de bicicletas em versões femininas, aquelas sem o varão horizontal entre o selim (assento) e o guidom para que a mulher pudesse passar a perna decentemente para o outro lado da bicicleta.
- HOMEM ANDANDO DE BICICLETA FEMININA.
E, também, os homens enfrentavam problemas! Se um deles fosse pego andando com uma bicicleta de mulher já, já os comentários rolavam de boca em boca cantando aquela música de carnaval: Olhe a cabeleira do Zezé/ Será que ele é? Será que não é?! Só que ficava assim: Olhe a bicicleta do Zezé/ Será que ele é?/ será que não é?!
Ninguém escapava da língua do povo!
- BICICLETA EMPLACADA.
Essa é uma bicicleta feminina.
Naquele tempo era obrigatório o emplacamento de bicicletas, tal qual hoje acontece com os veículos automotores. Até carroças deveriam ser emplacadas em certa época da nossa história!
Se uma bicicleta fosse flagrada sem a placa de identificação, era removida até a delegacia de Rio Negrinho, que ficava no prédio da Prefeitura, na praça principal em frente ao cinema. O proprietário da magrela só poderia retirá-la da “cadeia” depois de devidamente resolvido o problema sobre a placa que implicava no pagamento de uma taxa ou, se o dono tivesse a placa que fora removida por qualquer motivo, e a fixasse no devido lugar e pagando pequena multa de infração de trânsito.
- CORRIDA DE BICICLETAS.
Era tanta bicicleta que até corridas de bicicletas eram periodicamente organizadas pelas ruas da cidade. Na foto, vemos, QUITO RIBEIRO e CHICO PRETO organizando uma corrida. A Prefeitura oferecia prêmios aos mais velozes!
Não lembro se naquele tempo já havia o tal DETRAN mas digamos, a RECEITA fazia uma nota preta com o recolhimento de taxas sobre emplacamento de bicicletas devido ao grande número dessas “bichinhas de duas rodas” que circulavam pela cidade.
Mas lembro que, em Rio Negrinho, tinha um “GRANDE ARTISTA”, um rapaz do tipo “doidão evoluído”, malandro de carteirinha, que vivia aprontando onde quer que fosse. As iniciais do seu nome era A.D. (para preservar a sua identidade, pois hoje ainda vive e é conhecido).
Até bombas e rojões ele soltava dentro da sala de cinema repleta de pessoas vendo um filme, mas essa história quem vai contar, logo adiante, é a Mariana.
Voltemos ao caso das bicicletas.
Olhe a ideia da fera!
A.D. (ele mesmo) à noite, levou uma bicicleta velha até o alto do morro do Grupo Escolar Professora Marta Tavares, conhecido como o MORRO DO MARTA, afrouxou os freios que eram acionados por catraca quando os pedais eram girados para trás, e abandonou-a recostada no barranco mais acima do Grupo Escolar, próximo ao Cruzeiro (cruz).
6. CRUZEIRO NO ALTO DO MORRO DO MARTA.
Note como a cidade fica bem lá em baixo.
Essa cruz foi trazida por fiéis católicos desde a Igreja Santo Antonio até este local, atrás do pátio dos fundos da Escola Marta Tavares, para coroar as Missões aplicadas por padres missionários no tempo do Vigário Padre Celso Michels, no início da década de 1950. Esta fotografia foi tirada em 1958 com a cidade vista do alto da rua Adolfo Olsen que passa ao lado da Escola Marta Tavares e vai desembocar lá em baixo na hoje rua Dom Pio de Freitas, mas que naquele tempo chamava-se rua Dona Francisca.
Aqui em cima, A.D. armou a arapuca para o policial.
No dia seguinte, não demorou para chegar na delegacia a notícia que no Morro do Marta, acima da escola e próximo da cruz, havia uma bicicleta sem placas à beira da rua.
Lá foi o jipinho da polícia com dois policiais. Um para dirigir o jipe e outro para levar a bicicleta para a delegacia. A polícia quase não tinha o que fazer a não ser raramente correr atrás de bêbados que se excediam, ou de ladrão de galinhas nos quais era aplicada uma rodada de borracha no lombo e pendurada no pescoço uma placa com os dizeres: SOU LADRÃO DE GALINHAS com a qual era obrigado a desfilar pelas ruas centrais da cidade. Então, prender uma bicicleta era uma oportunidade de ter um pouco de ação e de quebrar a mesmice diária.
- RUA ADOLFO OLSEN AO LADO DA ESCOLA MARTA TAVARES.
Veja que foto rara!
Note que a rua Adolfo Olsen, no começo da década de 1950, ainda era um carreiro alargado com chão de terra muito irregular e cheio de buracos. Neste chão o policial enfrentou os solavancos na bicicleta e, mais à frente, o macadame de pedras cortantes.
Chegando no alto do morro, que é bastante inclinado, o policial viu a bicicleta sem placa e não teve dúvidas: embarcou na magrela e pedalou morro abaixo. Em certo trecho, já ao lado da escola a bicicleta atingiu boa velocidade então o condutor quis frear, mas cadê os freios!
Lhe veio à cabeça mil planos para se livrar do eminente infortúnio, mas nenhum que pudesse dar resultado positivo. E não havia tempo para pensar, não! A velocidade era muito grande – e aumentava a cada metro percorrido – para que ele pulasse fora, mesmo porque se o fizesse, se esborracharia nas pedras do chão da estrada.
Quando percebeu que caíra numa fria, o desespero tomou conta do pobre homem fardado que suava frio no cumprimento do dever como bom policial e sabe-se lá quantos Pai Nossos rezou e quantos santos invocou.
E foi chegando a curva! Cruzes! A curva parece que corria ao seu encontro! Aterrorizado, viu no outro lado da rua transversa, bem na sua frente, a uma baita cerca de ripas que mais parecia a Muralha da China multiplicada por cinco.
Nesse momento deve ter passado na sua mente o filme inteiro da sua vida!
O policial do jipe que o acompanhava nada podia fazer para salvar o colega. O jeito era deixar que se estrepasse da melhor forma possível e rezar para que a Santa dos Desgraçados o protegesse de alguma maneira!
- CASARÃO OLSEN.
Este casarão que pertenceu à família Olsen, está bem na esquina entre as ruas Adolfo Olsen e Dom Pio de Freitas. A maioria das cercas eram de madeira, material abundante na região.
Já em frente ao Casarão Olsen, a velocidade era tanta que sua preocupação principal era manter a bicicleta rodando sem tombar, porque se tombasse nas pedras (ali, a rua era ensaibrada), aí… “adeus tia chica!” O coitado não teve outra opção senão tentar fazer a curva em uma desesperada manobra para a direita, em direção à estação ferroviária, costeando o barranco na tentativa de, lá em baixo, se embrenhar no mato que ladeava a via férrea para que, talvez, a vegetação amenizasse o tombo inevitável.
Se isso tivesse acontecido à noite com o farol da bicicleta aceso, na frente dele tudo estaria no escuro porque a velocidade era tão grande que a luz viria correndo atrás da bicicleta.
Só que não conseguiu fazer a curva! PASSOU RETO PRÁ CERCA!
Mais veloz que o vento, atravessou a Estrada Dona Francisca que, naqueles tempos era o nome da atual rua Dom Pio de Freitas que corria transversal à rua da Escola Marta Tavares. A pancada na cerca foi tão forte que levou por frente um lance inteiro da cerca de ripas, adentrou numa plantação de aipim, rolou com bicicleta, ripas, ramas de aipim e tudo mais que tinha direito e só parou depois de um tombaço federal no meio da roça devastada.
- A BICICLETA VIROU NUM OITO.
A bicicleta virou num oito e ele parecia um algarismo indeterminado no avesso. Nem faço menção ao prejuízo que teve o dono da plantação. Com muita dificuldade, no hospital, o Doutor Bauer, médico da época em Rio Negrinho, aliás um grande médico, conseguiu identificar e separar o que era aipim, terra, ferro e pessoa e, assim, pôde remendar o infeliz desventurado.
- POLICIAL NO HOSPITAL.
Uns bebuns, nos bares da cidade, comentavam com sarcasmo (era só gozação) que a farda do agente da lei ficou dependurada num palanque servindo como espantalho aos pássaros mais assanhados.
Todo mundo sabia quem fora o responsável por tamanha desgraça do fiscal de trânsito, mas a guarnição nunca descobriu! Dizem (pode não ser verdade) que o policial, vítima da catástrofe, prometeu que se encontrasse outra bicicleta sem placa, ele mesmo compraria e colocaria uma placa nova na “bichinha”, mas nunca mais montaria em uma delas de novo! Mas, se descobrisse quem foi o responsável…!
- VINGANÇA.
Caro amigo leitor! Floreei a história com um pouco de humor, mas o fato da disparada da bicicleta com o policial naquele morro forte realmente aconteceu. Provavelmente, há mais detalhes sobre o caso que desconheço, por isso, somente publiquei o que lembro e pude apurar. Os dados históricos são verdadeiros.
As histórias do Rio Negrinho Antigo são muitas e merecem ser contadas!
A próxima história GUERRA NO CINEMA, será narrada por Mariana, amanhã!
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Um abraço de Celso e outro de Mariana!