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Turismo Religioso

A Constituição Federal de nosso país é clara, o erário não pode subvencionar nenhum credo, dada a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, além do princípio da laicidade do Estado. Contudo, o aludido axioma se choca com a realidade de que muitos projetos e programas, sem conotação religiosa, recebem apoio financeiro estatal, mesmo […]

Por Israel Minikovsky 15 min de leitura

A Constituição Federal de nosso país é clara, o erário não pode subvencionar nenhum credo, dada a igualdade de todos os cidadãos perante a lei, além do princípio da laicidade do Estado. Contudo, o aludido axioma se choca com a realidade de que muitos projetos e programas, sem conotação religiosa, recebem apoio financeiro estatal, mesmo ficando, no mérito, aquém das iniciativas eivadas pelo viés denominacional. Além disso, para o cidadão médio brasileiro, ou são-bentense mesmo, se as Sagradas Escrituras se mostram, na substância, juridicamente inaptas para o agraciamento em forma de edículo monumental, quem ou que, apto estará? Do ponto de vista teológico, somos peregrinos, e não turistas. O turismo é um conceito, em grande parte das vezes, ligado a entretenimento, enquanto que cristianismo é tomar a sua cruz. Quando à beira do poço de Jacó, Jesus conversa com a samaritana, Ele explica à sua interlocutora que o que importa não é adorar a Deus neste ou naquele outeiro, mas que os adoradores “adorem em espírito e verdade”. A única vez em que vemos o Cristo agressivo, na Bíblia, é quando derruba as mesas dos cambistas no Templo, e fazendo um chicote de cordas, expulsa os vendilhões. Disse Ele: “não façais da Casa de meu Pai um local de comércio”. Ainda que eu tenha feito todas estas ressalvas, com fulcro no próprio Texto Santo, quero defender a iniciativa política e legal de fazer da nossa São Bento do Sul uma referência religiosa e espiritual. Jean-Martin Charcot, precursor de Freud e Jung, escreveu obra na área da neurologia e psiquiatria, relatando casos de bênçãos alcançadas nessas viagens a que costumamos nominar de “romaria”. O sair de seu endereço residencial, com a forte convicção de que terá o dom pedido concedido, quase sempre dá certo. A expectativa que antecede a data do deslocamento é fundamental. Se a pessoa se prepara com orações e jejuns, com frequência, assiste a verdadeiros milagres em sua vida. Viver numa sociedade marcada por desigualdades sociais já é um calvário, por si só. Por conseguinte, essas viagens de teor religioso acabam se apresentando como verdadeiro “êxodo”, do grego, “saída” (de um caminho, de uma situação de vida infeliz). Oxalá, esses visitantes que passarão a frequentar nossa terra, abram os nossos olhos, de modo que os anfitriões entendam que nossa região não é pobre em opções nos dias de ócio, diferente disso, estamos, não raro, a perder a chance de glorificar o Autor de todos os dias, trabalhados ou não. De uma maneira reta ou tortuosa, percebe-se em todo o Brasil, o anseio do povo em encontrar descanso e bem-estar espiritual. A assertiva categórica de Pedro é nossa também: “A quem iremos nós? Só tu tens palavra de vida eterna!”. Felizmente, somos conhecidos como gente trabalhadora. O que o chão de fábrica tem a ver com suntuosos templos é isso: o que nos move é Aquilo que não se pode ver. A exterioridade de nossas realizações materiais esconde o que é invisível aos olhos que um dia serão entregues ao solo. Em vista disso, calha bem, a nós que nos notabilizamos pela remessa das mais belas mercadorias a uma gama de países, que também sejamos vistos como pessoas de fé, cuja índole decorre do que adoramos, e não de um mérito humano ou pessoal. O momento oportuno é de buscarmos o que temos em comum, e não o que nos separa. Precisamos ser educados dentro de uma cultura de respeito recíproco. É o mesmo Espírito que anima a diversidade das vivências cristãs. Que bênção poder partilhar destes tesouros com fiéis outros, que se colocam à procura. Prescindindo-se da discussão, se faz sentido empregar a expressão “turismo religioso”, uma coisa é certa, multidões se encontram enfastiadas da coseidade do mundo, deram-se conta da nulidade de toda empiria e promessas fáceis de alegria. Para além do divertimento, o que as pessoas querem, agora, é o sentido. Disso tudo, pode-se inferir que, a ideia de jungir o sagrado e a promoção do nome de nossa cidade, casa o útil e o agradável. Mais do que a aprovação de uma novel legislação, seja a iniciativa uma fonte de luz, para quem passa e para quem fica.