Venetoraptor: fóssil encontrado no RS era parente dos pterossauros
O fóssil foi escavado no município vizinho de São João do Polêsine
Por Jornal Liberdade 13 min de leitura
Um grupo de pesquisadores do Rio Grande do Sul fez uma descoberta que impactou o mundo da paleontologia. Trata-se do fóssil de um animal pré-histórico que viveu no Triássico, o mesmo período em que os primeiros dinossauros caminhavam pela Terra. Ele foi batizado de Venetoraptor e é um parente dos pterossauros — aqueles répteis voadores que aparecem nos filmes.
O Venetoraptor foi encontrado em 2022 por pesquisadores de diferentes países, em um trabalho liderado pela UFSM, a Universidade Federal de Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul. O fóssil foi escavado no município vizinho de São João do Polêsine.
Um dos coautores do estudo é Maurício Garcia, doutorando no Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da UFSM. O pesquisador conta que a equipe toda comemorou ao perceber que o fóssil estava em ótimo estado de conservação.
“Primeiramente, estavam aparecendo apenas alguns elementos, principalmente da perna. E conforme a gente foi escavando ao redor, foi aparecendo o restante do material. Da cabeça do animal, tem algumas vértebras, os ossos da coluna e do pescoço, tem partes do braço dele e partes da perna. Então, estão num estado muito bom que permite que a gente consiga analisar as estruturas, consiga avaliar com bastante precisão como eram as características dele.”
O Venetoraptor não era um dinossauro, mas sim um parente dos pterossauros. Apesar disso, ele não voava; mas sabia correr muito bem sobre as duas patas traseiras. O animal tinha cerca de um metro de comprimento da cabeça à ponta da cauda, e pesava menos de dez quilos. Mas o Venetoraptor apresenta algumas características físicas bem diferentes em relação a outros répteis do mesmo grupo — e esse detalhe chamou a atenção da comunidade científica internacional. Por isso, a descoberta gaúcha foi destaque na capa da última edição da revista Nature, a publicação científica mais prestigiada do mundo, como destaca Maurício Garcia.
“Esse nosso animal apresenta o bico, como eu falei. Ele tem a mão preservada, que é diferente da mão que está preservada em outros Lagerpetídeos. Então, mostra que esses animais, apesar de serem proximamente relacionados, esses Lagerpetídeos ocupavam nichos bem diferentes, mais distintos ainda do que os próprios dinossauros que conviviam com eles. Isso é algo que foi um tanto inesperado, foi um resultado da nossa análise que a gente realmente não estava esperando.”
Ainda segundo o pesquisador, as formações geológicas da região central do Rio Grande do Sul fazem de lá uma das áreas mais propícias do mundo para estudar fósseis do Triássico. Com a descoberta do Venetoraptor, a região deve ganhar ainda mais interesse dos paleontólogos.
“Do Triássico, surgem várias das linhagens que hoje em dia dominam os ecossistemas, pelo menos em questão de vertebrados. Se alguém quiser estudar a origem dos dinossauros, vai ter que olhar os fósseis que a gente tem aqui. Se alguém quiser estudar a origem dos crocodilos ou das linhagens próximas aos crocodilos, vai ter que encontrar os fósseis encontrados aqui. Os mamíferos também, a mesma coisa. Todo mundo que quiser estudar a origem de vários desses grupos, tem que vir aqui ver os nossos fósseis. Não é que também não sejam encontrados fósseis parecidos em outros lugares do mundo; mas aqui, a gente tem uma abundância e uma preservação que são fantásticas.”
O nome do Venetoraptor é uma homenagem a Vale Vêneto, uma localidade turística de colonização italiana que fica em São João do Polêsine, município onde o fóssil foi encontrado pelos pesquisadores da UFSM