Violência: cortando o problema pela raiz
O fruto tem em si a natureza da semente de que proveio. Agora estamos vivenciando uma espécie de avalanche de violência no meio escolar. Entretanto, essa violência se explica simplesmente pela negligência familiar? Se família, escola e comunidade repudiam a violência, por que ela está em alta? Em que espaço ela faz o seu próprio […]
Por Israel Minikovsky 12 min de leitura
O fruto tem em si a natureza da semente de que proveio. Agora estamos vivenciando uma espécie de avalanche de violência no meio escolar. Entretanto, essa violência se explica simplesmente pela negligência familiar? Se família, escola e comunidade repudiam a violência, por que ela está em alta? Em que espaço ela faz o seu próprio comercial? A pergunta é fácil de ser respondida: ela tem trânsito livre na TV, no cinema, nas redes sociais e nos jogos de vídeo game. Os heróis varrem o mundo dos vilões fazendo uso de uma força tão brutal e de métodos tão terríveis quanto aqueles que visam tirar de circulação. Passa-se a impressão de não haver nada de mal usar a violência. Nos jogos eletrônicos há um empoderamento do jogador. O jogador se sente o protagonista da matança, ele é o justiceiro do bem, se é que faz algum sentido usar esta expressão. Uma parte não desprezível de nosso cérebro é impotente em distinguir a simulação virtual da realidade concreta. Não é por acaso que o exército norte-americano usa jogos de vídeo game para a dessensibilização de soldados treinados para irem à guerra fazer o serviço de executar o elemento indesejado. O mundo das telas tira de cena o trabalho, o estudo e a filantropia, como meios de autorrealização, e transfere essa função para o exercício da violência. Enjambrar mil artimanhas para banir a violência da escola, sem considerar o papel das tecnologias de animação, corresponde a fazer menos da metade do trabalho, desejando a plenitude do resultado. Por conseguinte, se a banalização da vida decorre da dessensibilização do intelecto, a vida será valorizada se a sensibilidade puder ser devolvida a quem ficou dela despojado. E como há de ocorrer esta restituição? Precisamos criar rapport, isto é, precisamos estabelecer empatia entre a potencial vítima e a pessoa que está próxima a ela. O que se enquadra na perspectiva do agressor deve ter a capacidade de visualizar o sofrimento da outra pessoa. O agressor em potencial deve ser induzido à compreensão de que todos têm sentimento, relações de afeto e história. Subtrair de outro o direito à vida corresponde a interromper sonhos e projetos de vida. Se no jogo eletrônico o alvejado deixa de existir e some, como que, água que se evapora, na vida real, o homicídio traz consigo consequências jurídicas, sociais, existenciais e espirituais. Friedrich Fröbel cunhou a expressão “jardim de infância”, porque entendia que a criança pequena era como uma planta. Delicada, e que requeria atenção e fino cuidado. Ora, admitida a propriedade terminológica, fica a questão: se a criança é uma flor, quem é o vaso? Dou-lhe uma: a família, e nem precisa dar o próximo lance. Dessarte, a maior lição que um pai e uma mãe podem dar a um filho ou filha, é esta, a lição do amor. Criança vítima tem pai e mãe, mas o agressor um dia também teve pai e mãe. O agressor já fez sua passagem pela escola, outrossim. Onde impera a inclusão integral inexiste risco, porque o risco não pode ter outra procedência que não seja entre os alijados. Desta feita, a segurança no meio escolar deverá trabalhar em conjunto com a vigilância socioassistencial, que fará busca ativa e mapeamento territorial, do seu perfil e de suas demandas, a fim de que as cautelas e as precauções devidas neutralizem ações violentas ainda antes de se iniciar sua execução.